Ninguém sabe por que crescem troncos
no deserto, ninguém pode saber que sementes
resistem aos frutos, que frutos brotam da
terra seca e se fazem ao caminho como se
fossem gente, ninguém sabe por que mistérios
são perseguidos os troncos, quando, frente a
frente, ficam parados com o mar à escuta.
O mar escuta-nos os pés, fala-nos baixinho
com o tom da espuma, ele vai numa onda
mansa para dentro do seu próprio eco, nós
aguardamos na sombra, como um tronco no
deserto, frente a frente, com a semente que
resistiu ao fruto, encorajados pela luz que nos
cerca e faz a sombra onde o frio se abriga.
Eu vejo as coisas sucedendo entre os dedos
arrepiados, nenhuma palavra segue o meu
caminho, nenhuma palavra se deixa
escravizar pelo dizer, porque também eu sou
um tronco no deserto à espera que o mar
escute os anseios dos meus pés parados,
cansados, desprotegidos, embora nenhum
caminho já reste para quem adormeceu no
fundo do deserto.
Permitamos então que o sal lave os caminhos
parados, permitamos que a espuma faça
cócegas à fuga, que o frio se proteja na
sombra da nossa luz, permitamos isso e
muito mais, pois enquanto houver um mar a
escutar-nos nenhum caminho faltará,
enquanto existirem troncos no deserto as
semente cederão ao fruto.
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